Afinal, para que serve a filosofia?

" O que é filosofia?"
"Afinal, para que serve a filosofia?"

Essas perguntas sempre são feitas para aqueles que, não se sabe bem o  porquê, decidem se dedicar a essa disciplina. E foram respondidas uma infinidade de vezes,  talvez o número de respostas oferecidas ao longo da história seja o mesmo que o número de filósofos que se dedicaram a respondê-la. Ainda assim, essas questões parecem não se esgotar.

Mas não nos preocupemos agora com tais perguntas. Vamos considerar a seguinte afirmação:

A filosofia é inevitável.

O que será que se quer dizer com isso ? Que todos devem estudar filosofia? Certamente não é este o caso. A filosofia é inevitável no sentido de que nós já, e desde sempre, vivemos dentro dela.

Qual é o sentido do que foi dito acima?

Todos nós temos uma filosofia, ou seja, compreendemos, reagimos, questionamos e respondemos ao mundo a partir de uma posição filosófica, quer a gente saiba disso ou não.

Vamos considerar um exemplo simples. Recentemente, ocorreu uma polêmica acerca de uma cartilha, a ser distribuída nas escolas, com a finalidade de combater a homofobia. As reações quanto a isso foram diversas,  mas delimitadas por dois pólos opostos: os que concordavam totalmente e aqueles que rejeitavam na mesma intensidade que os anteriores.

O que nos interessa aqui não é quem estava certo, mas sim que ambos estavam convictos de estarem certos. Cada qual afirmava sua posição, convictamente, e aqui vamos considerar que isso é feito sem má fé, ou seja, a pessoa está convencida que a sua resposta é a certa e a melhor para as crianças.  Se perguntados, qualquer um dos lados é capaz de oferecer as “razões”  ou “evidências” que sustentam sua posição.

Agora nos detemos um pouco para considerar: como algo “evidente” pode não o ser para todos na mesma medida. Ora, a idéia de evidência é justamente aquilo que é prontamente “visível” a qualquer um. Como é possível haver tanta discordância quando algo nos aparece como “evidente” ?

Lógico que aqui poderíamos sem nenhum problema deixar essas questões para lá. Dar de ombros e dizer: “ ah, cada um pensa de um jeito, isso é assim mesmo... cada cabeça, uma sentença...”. Perfeito! Mas vivemos mesmo deste modo? Conseguimos mesmo aceitar o outro e seu modo de ver o mundo, ou isso nos causa enormes dificuldades?

Pensemos nos relacionamentos. Quantas vezes em uma discussão entre maridos e esposas, namorados, etc, chega-se ao seguinte diálogo:

João – A realidade é a seguinte...
Maria – Não tem nada a ver isso que você esta dizendo...

Considerando que João não sofra de nenhum problema neurológico, como é possível que Maria afirme, que a “realidade” de João “ não tem nada a ver” ? Ora como alguém "são" pode estar enganado quanto a realidade ? Existe algo mais fácil de ser feito do que constatar a realidade? Aparentemente, é só olhar e ver.

Estamos o tempo todo dizendo o que é certo ou errado, dizendo o que é real ou não. Mas se já podemos desconfiar da “evidência” como garantia de nossas convicções, como nos sentimos tão certos?

O que nos sustenta é uma “filosofia de vida” inevitável, que na maioria esmagadora das vezes, nem nos damos conta possuir.

Aqui acontece algo que pode parecer estranho, pois a expressão “filosofia de vida” parece remeter a algo que seja consciente, e isso não é sempre assim.

Pode nossa “filosofia de vida” nos ser prejudicial sem que nos demos conta disso?

 Marco Aurélio Zago - graduado em Psicologia pela UFF e em Filosofia pela UFRJ


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